Isto é que é “chamar os bois pelos nomes”!

«…A escola é um antro de egoístas. A maior parte dos professores não quer saber dos sindicatos, quer é que os deixem em paz e lhes dêem pouco ou nenhum trabalho. Foram para a escola já derrotados, e ficam cada vez mais zangados e tristes à medida que os anos passam. Mas aceitam as supostas ignomínias, que denunciam só quando os apertam, e não saem do sistema que dizem repudiar, porque compensa. Óbvio, que ninguém se iluda: não saem porque compensa. Assim que um professor assegura a continuidade, a vida pode ser muito agradável. Há salários dignos e crescentemente confortáveis pela carreira afora. Os conhecimentos pessoais, as amizades, dentro de uma escola fornecem comodidades que vão desde poder ter os melhores horários a ter as melhores turmas. A gestão das benesses da profissão confere um prémio que não há dinheiro que pague: tempo livre. Um professor tem muito tempo livre ao longo do ano, e todas as queixas que se oiçam quanto ao peso da preparação das aulas, ou com a correcção dos testes, é tudo grosseira mentira ou assunção de incapacidade. O que acontece é que os professores saíram das universidades, ou dos liceus, e foram dar aulas sem passar pela realidade. Por isso, nunca trabalharam. Ou seja, não têm modelo comparativo e negam o mundo exterior, não foram postos à prova num ambiente competitivo. Nem ninguém lhes exigiu muito esforço intelectual e auto-conhecimento psicológico para serem formadores e representantes do ensino. O seu cansaço e dificuldades, o seu mal-estar, é transformado em lamúria e queixa, alimenta a passividade. Não aceitam que o problema possa ser primeiramente deles, preferindo a disfunção cognitiva onde se reclamam credores de ainda mais reconhecimento e vantagens. Afinal, eles são professores; ou seja, pertencem a uma casta que só deve responder perante a consciência do próprio indivíduo intitulado. Os seus alunos pertencem-lhes por atribuição divina, as suas salas são santuários interditos a estranhos. Nem o Estado, nem os pais, nem o Governo, nem os colegas podem fiscalizar a secreta passagem do saber que cada professor pratica, preferencialmente, de modo esconso. É por isso que estão unidos; mas como já estavam antes – unidos no pacto de silêncio onde se reconhecem cúmplices de uma fraude com décadas. Também eles aboliram a política, não confiam nos governantes, nos pares, na sociedade. Recusam-se a negociar com um Governo reformista, forte o suficiente para assumir desafios desta magnitude. E recusam-se a participar na melhoria da escola, com medo de se desmascararem e aparecerem à vista de todos como os rapinantes do bem comum que, de facto, são.

Os professores que não querem ser avaliados, e boicotam o futuro da sociedade, são o último estertor do salazarismo.»

Publicado por Valupi no Blog “Aspirina B”

3 Respostas to “Isto é que é “chamar os bois pelos nomes”!”

  1. MFerrer Says:

    Pode haver aí uma certa verdade mas as generalizações…
    Devo dizer que pertenço a uma família longa de professores, geração após geração, e onde garanto, a maioria sempre foi dedicada e de esquerda e séria e trabalhadora. Portanto não concordo com esta visão catastrofista. Os portugueses não são assim tão maus!
    Hoje a maioria está a ser utilizada e transformada em massa acrítica por oportunistas da extrema-esquerda à extrema-direita! É apenas isso!.
    Mas a grande maioria continua a fazer a avaliação e vai mesmo cumpri-la. Aposto dobrado contra singelo!
    MFerrer

  2. fernando Says:

    o texto também se aplica aos que do(s autor(es) do post foram professores?

  3. António Apolo Says:

    É a nova moda de quem não sabe o que é trabalhar a sério…
    Ou que nunca experimentou as agruras dum emprego para trabalhar…

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